2 de set. de 2009

Uma atividade marginal

Diante do exagero como buscam cumprir a encomenda, os jornais que aceitaram a missão de desconstruir a imagem do senador José Sarney findam por se expor ao descrédito. É que não dá para tachar como ilícita a nomeação de uma pessoa para um cargo em comissão no Senado e, ao mesmo tempo, apresentar Fernando Henrique Cardoso, o grande aliado de Serra, como bom moço. Seriam dois pesos e duas medidas.

Como todos sabem, a filha do ex-senador e ex-presidente FHC, Luciana Cardoso, era até pouco tempo funcionária do Senado. Quem teria pedido por ela? Além disso, alguém se recorda onde trabalhava, durante o governo Fernando Henrique, o sr. David Zylbersztajn, seu genro? Não me consta que esses agressivos jornais tenham condenado FHC por esses assuntos que em Sarney consideram da maior gravidade. Mas fiquemos por aqui, pois a intenção não é agredir FHC, mas tão-somente comprovar a parcialidade da imprensa serrista.

Até mesmo porque FHC e Sarney são brasileiros e estão sob a égide de uma mesma legislação. Ambos são ex-presidentes e referências máximas de seus respectivos partidos: PSDB e PMDB. Em breve, Lula será também ex-presidente e referência máxima de seu partido, o PT. Todos eles merecem tratamento justo como qualquer outro cidadão brasileiro.

Mas se a imprensa serrista quer apresentar o xingamento ao senador Sarney como jornalismo investigativo, algo impessoal, que mande levantar quem são os funcionários do Congresso Nacional e, nesse caso, quem é parente de quem. Com isonomia, sim, a reportagem merecerá respeito. Mas da forma como o noticiário está sendo fabricado, os ataques ao senador Sarney ganham aparência de serviço de pistolagem.

De tudo isso, porém, passada essa turbulência artificial, até porque o embuste não irá muito longe, duas questões irão requerer um amplo debate nacional: a liberdade de imprensa e a inviolabilidade do segredo de Justiça.

É que, no Brasil, a violação ao segredo de Justiça virou uma desordem sem tamanho. Em nome da liberdade de impressa, algo tão louvável quanto útil, grupos político-empresariais contratam os profissionais da ofensa para pôr em prática suas estratégias de poder. Diferente de outros países, a nossa legislação não dispõe de instrumentos para punir os compradores de tais informações, o que permite o seu uso criminoso como estamos a assistir.

A nossa Carta Magna garante, entre outros, dois princípios fundamentais à democracia: a liberdade de imprensa, ou seja, o direito de informar a verdade, e os direitos e garantias fundamentais, a exemplo da intimidade, da vida privada, da honra, da imagem. Claro que entre o direito de informar, que é um bem coletivo, e o direito à honra, que é um bem individual, prevalece o coletivo. Todavia, para que essa lógica tenha legitimidade, é preciso que a informação seja verídica.

Ora! Não é a isso que estamos assistindo. O grande malabarismo da imprensa serrista na semana foi a publicação de “grampos” sob o título: “Gravações ligam Sarney aos atos secretos no Senado”. Para começar, a conclusão é fantasiosa, coisa da cabeça do autor da manchete. A informação não é verídica, pelo contrário, constitui uma grosseira falsidade ideológica.

Por outro lado, é bom que fique claro, quem compra e publica informações surrupiadas de processos judiciais em segredo de Justiça está a se servir de uma mercadoria ilegal. É como o receptador de um bem furtado. Uma atividade marginal. Ainda mais quando utilizado com distorções para cometer crimes contra a honra alheia.

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